Do mecanismo fantástico de perpetuação e evolução de idéias, a memória humana, tenho comigo minha história, visualizando imagens em tons de cores Super 8. Projetando cenas, antigas, eu vejo os discos de vinil do meu pai guardados no rack do 3 em 1 CCE. Era bom aquele aparelho! E os discos, moldaram os subsequentes dias, para sempre. Acho que os registros mais antigos da memória devem ser de 1981, mais ou menos. Muitos dos discos eu nunca ouvi até hoje, e se ouvi não lembro. Tinha Bad Company, The Who, Doobie Brothers,...tudo que eu não tinha tempo de conhecer, porque eu não conseguia deixar de ouvir os...Pink Floyds. É verdade que ele também ouvia muito Pink Floyd, então The Wall, Dark Side, Wish You Were Here, Final Cut eram a trilha sonora de uma adolescente e precoce angústia de criança. Ele ouvia muito Chico Buarque, mas a minha cabecinha já era esculpida e adicta por guitarras, marshalls, bateras e pentatônicas...
Mas havia a capa de um disco que me intrigava. Era o Rush - Caress of Steel, com um velho sinistro rodeado de fumaça e uma serpente irritada. Na contra-capa, um carvalho imerso na correnteza de um rio revelava faces apavoradas e assustadoras...era um pouco sombrio demais para um criança de 5, 6 anos. E eu não tive coragem de escutá-lo por vontade própria, até que um dia fui brincar na casa de um amigo e o seu irmão mais velho tinha o mesmo disco e resolveu escutá-lo, num volume bem alto...acho que esse foi o dia que eu conheci o heavy metal; Bastile Day atropelou minha inocência com o máximo de rebeldia produzida pelo Rush, a bateria raivosa, o baixo selvagem...eu percebi os abismos da realidade.
Havia outras capas bizarras como Sabbath Blood Sabbath...
Mas o lance do Rush teve outros episódios, eu ouvi na Ipanema FM a música Fly By Night e de novo me apavorei com a banda. Daí procurei e achei outro disco do meu pai, o Moving Pictures. Escutei Tom Sawyer e disse "Pô, essa música é do McGyver!" Depois, ganhei o disco Fly By Night de natal e escuto o triozinho há quase 25 anos...
Lembro também que meu pai comprou na Tabacaria Central, entre Caetano Veloso e outros, um disco lançamento na época, 1985, do Camisa de Vênus, Batalhôes de Estranhos. Eu escutei esse disco um bom tempo e isso me distanciou um pouco das minhas raízes. Passei a ouvir mais rádio, comprei o Radio Pirata do RPM, comecei a ficar um pouco mais normal...Mas aí sem querer, eu assisti num programa da Bandeirantes com o Mauro Borba o clipe da Xanadu, ao vivo, e toda aquele excentricidade sonora voltou. E se amplificou nos anos seguintes. Conheci Yes através da Ipanema FM e uma fidelidade ferrenha ao progressivo começou a crescer. ELP e King Crimson juntaram-se a família. Mas meu preconceito com música pop e hard rock da época era muito forte. Ouvir Bon Jovi nem pensar. Até que, já com uns 16 anos, conheci Fire & Ice do Malmsteen e as coisas começaram a mudar. Daí por diante minha pesquisa buscando música de qualidade elevou exponencialmente minha cultura musical. O resultado eu tenho compartilhado com os visitantes do Virtuosys...